quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eu pari!

Sabe, imagino que nada aconteça por acaso, meu relato é a prova disso ...

Parto natural hospitalar pélvico em 23.07.2014

Após 01 ano e 09 meses de tentativas e esperas, 01 dia antes do início do tratamento para engravidar ... descobrimos a gravidez, chegou nosso momento!

No auge do meu mau humor, não imaginava serem os hormônios, vi Felipe chorando de felicidade e eu, sem acreditar ... aliás, só acreditei mesmo após alguns meses, tamanho era o meu medo de sofrer um aborto. Neuroses de mãe!

Anos antes havia começado a estudar, afinal, aprendi com o meu pai ... tudo deve ser bem pesquisado, se for pra abrir a boca pra falar besteiras ... melhor não falar, aliás, estudar é magnífico e viciante.
Resolvi ser fotógrafa ... resolvi ser fotógrafa de partos humanizados ... onde fui me meter? Afinal, esse é um dos assuntos mais inacreditáveis e amplos que existe ... parir! Conheci pessoas espetaculares, tipos de "gente" que eu desconfiava que existia mas não conhecia, fiz grandes amizades!

Tive uma gestação perfeita, como disse, havia estudado,  então, conhecia o caminho das pedras, não precisei passar por dificuldades nas mãos de médicos despreparados... sabíamos que queríamos um parto humanizado e além disso, domiciliar. Então, fizemos pré natal com a parteira em casa e com a médica no consultório, ambas super conhecidas e recomendadas, ambas maravilhosas. Meu marido, o Felipe, tratou de estudar também e se empoderou quase tanto quanto eu.

No final da gestação, exatamente com 38 semanas e 4 dias, descobrimos que nosso bebê estava pélvico ... ah, só saberíamos o sexo no parto ... nesse momento estremeci, não pelo bebê pélvico, pois meu desejo encubado por um parto pélvico funcionou mas, por não poder parir em casa ...

Conversei com minhas parteiras e iniciamos os exercícios ... eu desisti, não queria aquilo, me fez mal, queria que o meu bebê viesse como bem entendesse. Entramos num consenso, vamos tentar, afinal, eu não iria para o hospital, aquele local que me apavorava tanto, que fazia minha pressão subir.

Muita coisa ainda estava por vir.

Quando eu completei 39s5d, na quarta-feira, tive uma péssima notícia, minha mãe havia sido internada ...

Na sexta, com 40 semanas, resolvi visitá-la, ela deu muitos beijinhos na barriga e eu falei por diversas vezes que a amava, nossa, essa visita, por mais necessária que fosse, acabou comigo ... tive crises de choro e minhas parteiras sentiram a necessidade de virem aqui ...

(Foi confirmado seu tumor no pulmão, irreversível e inoperável por causa do cigarro)

Pronto! Aumento de pressao e extrasístole, por estresse, no coração do bebê ... fomos para o hospital humanizado do SUS.

Como minha pressão continuava alta precisei ser internada para avaliação e exame de pré eclampsia ... nossa, como foi importante a presença do Felipe 24h comigo ... todos os dias eu acordava chorando, queria sair dali, queria estar com meu pai, com minha irmã, com minha mãe, me sentia uma imprestável, uma doente! Ninguém podia me contar nada que estava acontecendo pra minha pressão não subir ... cruzes, como sofri!

2 dias depois, no domingo ... enquanto esperava a alta ... pré eclampsia confirmada ... eu chorava tanto que a médica ficou apavorada, não estava entendendo ... só disse que ali eu ficaria até sair com meu bebê nos braços e, como ele estava pélvico, eu entraria em jejum e faria uma cesariana às 17h, afinal, pré eclampsia indica indução mas, partos pélvicos não podem ser induzidos e os médicos que ali estavam não assistiam partos pélvicos.

Pensei em aceitar essa proposta indecente, eu estava cansada de lutar, era MUITA coisa pra aguentar, muita luta, muito peso mas, ao mesmo tempo, eu queria correr dali e ... após diversas ligações para saber exatamente do meu quadro, quando eu recobrei minha consciência, foi exatamente isso que fiz, fizemos, eu e Felipe de mãos dadas ... sou A louca que fugiu da maternidade!

Fui pra casa pra esperar o retorno da minha médica que estava em um parto e dormi, dormi muito, nunca senti tanta exaustão!

As coisas estavam se ajeitando ... eu achava que minha mãe seria transferida pra um hospital para iniciar a radioterapia.

(Nossa, pulei tantas informações pertinentes mas, deixarei elas na minha memória)

No dia seguinte (segunda), fomos tentar fazer a VCE pra virar o bebê, mesmo sabendo ser praticamente impossível com esse tempo de gestação. Eu não tentaria se não fosse a pré eclampsia e, mais tarde, me arrependi por ter tentado ... Nosso bebê não virou! Após a consulta com minha médica, ficamos muito mais tranquilos, ela fez um descolamento de membrana, eu estava com 1cm de dilatação e nossa saúde estava ok, decidimos esperar mais um pouco.

Voltei pra casa e dormi novamente, a exaustão persistia.

Felipe me acordou com muito carinho e me trouxe a notícia, minha mãe havia falecido naquela manhã. Senti um buraco embaixo dos meus pés, minha mãe não veria nosso bebê. Eu queria dormir pra sempre, queria uma anestesia geral, qualquer coisa que acabasse com aquela dor ... queria um pouco menos de porrada, era MUITA coisa pra eu aguentar!

No dia seguinte fomos ao velório ...

Posteriormente fomos nos consultar com minha médica e após descolar mais uma vez a membrana e verificar que eu estava com 1,5cm de dilatação entramos em um acordo. Por causa da pré eclampsia, caso eu não tivesse nenhum sinal de trabalho de parto até sexta (41 semanas), faríamos a cesariana, senão, eu entraria em tp e ela, competente ao extremo, acompanharia meu parto pélvico.

Eu nasci 2 dias depois da morte do meu avô materno e, pressenti que meu bebê nasceria 2 dias depois da morte de sua avó materna, minha mãe.

Então, 2 dias após a morte da minha mãe ... Às 02h30 da madrugada de quarta-feira (23 de Julho de 2014) comecei a sentir cólicas, sabia que eram os pródomos. Chamei o Felipe e coloquei sua mão no meu ventre, pois assim aliviava um pouco a dor. Pensei que conseguiria voltar a dormir, afinal, algumas mulheres ficam dias em pródomos ... precisei levantar, fui tomar um banho para ver se engrenava ou parava ... a dor piorou, começou a irradiar para a lombar, testei algumas posições, Felipe fazia massagem na minha lombar a cada contração e contava o tempo e duração delas. Liguei para a minha doula, enviei mensagem para a minha fotógrafa ... não senti a necessidade da minha doula ir lá pra casa, sou um pouco auto suficiente rs, só o Felipe me bastava.

As contrações foram ficando mais intensas e ritmadas, eu precisava ir para o hospital, só de pensar em ficar no carro durante as contrações me dava pavor.

Nossa, como a vocalização é necessária, ela auxilia demais durante as contrações.

Cheguei ao hospital e, enquanto minha médica estava chegando, eu era vista como um ET por estar em trabalho de parto no hall de um dos hospitais com as maiores taxas de cesariana do Rio.

Ela chegou, ufa, ela chegou ... eram 06h da manhã.
Então a Dra me disse que eu estava com 4cm de dilatação ... COMO ASSIM SÓ 4? Ferrou, vou ficar dias aqui pra parir, foi o que pensei.

Fomos para o quarto ... agora inicia a minha visão do trabalho de parto, pois para os outros somos deusas, mulheres fortes e lindas ... para nós somos loucas que queremos que aquilo acabe logo.

A dor era tão intensa e eu achava que ficaria dias com ela que entrei em desespero, pedi cesariana, pedi analgesia, mesmo sabendo que o parto pélvico não pode ter intervenções, analgesia? Nem pensar Maíra. Me arrependi por ter estudado, por querer parir, lembrei dos vários relatos de parto que li e que as mulheres contam sobre esse momento de fraqueza. Felipe me lembrando do meu desejo e eu com muita raiva dele por ser tão companheiro e de mim por ter preparado tanto ele.

Eu ficava indo e vindo do quarto pro banheiro ... fui pro quarto ... a bolsa estourou na cama ... voltei pro banheiro ... fui pro quarto ... vomitei a cama inteira ... voltei pro banheiro. As camareiras (pq lá parecia mais um hotel) devem me amar até hoje.

Desisti de pedir pra sair ... rs. Melhor controlar a dor ... e não é que deu? Nos intervalos das contrações eu descansava. Ah se não fosse o Felipe e minha doula Lu ... sério, contratem uma doula, é essencial.





Minha amiga e fotógrafa chegou,mesmo eu não conseguindo dar bola pra ela, fiquei aliviada, registrar esse momento era essencial pra mim.

Lá veio a Berna, minha GO ... e eu disse: eu quero ir pra sala de parto. Ela: pra que? Eu: pra parir.

Então chegou o momento.  Fomos.

A partir de agora somente lembro de partes ... afinal, partolândia é isso.

Pode ser coisa da minha cabeça mas, senti como se a dor tivesse diminuído, era totalmente suportável, nem se comparava a dor de morte que senti no quarto. Realmente as sensações de um parto pélvico são diferentes, vejo pelos relatos que li de partos cefálicos, pois antes de qualquer período expulsivo, ainda no quarto, eu sentia muita vontade de fazer força e fazia ... não saia bebê, nem saia coco.

Ficava de 04, deitava pra descansar, caminhava pelo quarto, sentava na escadinha, ajoelhava no chão, ficava de 04 embaixo da cama e, finalmente, coloquei um joelho na cama e o pé em cima da escadinha, tava achando que era acrobata, a Valéria (GO assistente) pediu pra eu colocar o pé no chão, assim não cairia e Felipe ficou me sustentando ... fazia todas as posições que me davam na telha mas, essa com certeza nos ajudou muito.






Era hora de voltar pra cama e ficar de 04 (posição excelente pra partos pélvicos), chegou o momento, ou não, posso ter pulado diversos eventos ...


A vontade de fazer força era absurda, algo incontrolável, muito mais forte do que eu ... então fiz a primeira maior força da minha vida e ... perguntei: Já saiu? Tadinha, tão ingênua. O bumbum do bebê aparecia e voltava, ele estava vindo aos poucos ...




Fiz muitas forças, forças muito fortes, se isso existir ... e nosso bebê, lembram que eu disse que me arrependeria da VCE? Pois é, foi a pior escolha que fiz nessa gestação ... ele ficou muito mal posicionado por isso ...

Minha vocalização mudou, minha expressão mudou, eu mudei, estava mais forte.




Então, Berna pediu para o Felipe ficar do meu lado, primeiro para não ver o sexo antes de mim e segundo, pois era um parto pélvico, ninguém sabia como seria ...



Primeiro saiu o sexo, depois o pé esquerdo, ambos muito roxos e inchados pois ficaram muito tempo pendurados (em 3 dias voltaram ao normal), depois saiu o bumbum, muuuuuuito mecônio, aliás, eu também fiz coco e fui sendo limpa delicadamente, a outra perna estava pra cima, saiu barriga, acho que um braço, o outro braço estava cruzado no peito ... e cabeça ... essa saída durou 14 minutos (tenho o vídeo caso algum profissional da área queira assistir).



Mas, antes ... senti o círculo de fogo, algumas mulheres não sentem, certo? Acho que senti por todas elas juntas ... afinal, perna + corpo é maior que cabeça. Nossa, pensei que estivesse sendo rasgada do ânus até o clitóris mas, fazia mais força, meu bebê precisava nascer ... depois fui saber que não tive nenhuma laceração. Fiquei pasma, sou elástica.

Nosso bebê caiu na cama, branco, não começou a respirar sozinho ... eu achava que não tivesse recebido oxigênio pelo cordão, até falei isso no Boas Vindas (ah, o programa da GNT filmou o parto) só que não ... coração estava perfeito e oxigenação placentária também, ele só nasceu muito cansado ... se foi cansativo pra mim, pra ele foi muito mais. Então o cordão foi clampeado precocemente e o Dr maravilhoso pediatra ventilou nosso bebê.

Mesmo estando de frente pra ele eu não vi o sexo, estava, obviamente, mais preocupada com sua saúde. Então ele ficou bem, respirou, ficou corado e chorou ... Foi apavorante pra mim! Felipe demonstrou o quanto era forte, a todo momento falando que nosso bebê estava bem e me deixando mais tranquila.

Perguntei, em prantos, para Dra, se eu tinha feito a escolha certa, em ter um parto natural e, ela afirmou que sim, com certeza e que eu fui maravilhosa.




(Hoje, após 20 dias, isso se confirmou na consulta com a pediatra que nos explicou os benefícios do parto para o nosso bebê)

Nossa médica disse: é um menino. O Gael, que eu sempre soube que era. Nosso russinho. Lindo.

Gael nasceu com 3660g e 52cm.

Ele veio pro meu colo, ficou um pouco e, por precaução, ficou 2 horas em observação no berçário ... essa falta ainda me faz mal mas, em breve, espero me curar!






Criei uma placenta apegada por essas exatas 2 horas ... nada fez com que eu a parisse então, precisei da ajuda da minha GO que a puxou, enquanto eu fiz uma leve força.

Conheci minha placenta, ela me foi explicada e mostrada nos mínimos detalhes, era somente o que queria dela.  Não quis levar pra casa pra plantar, nem pra fazer cápsulas ou pintura ... me despedi dela e pronto, deixei ela lá.

Fui pro quarto, recebi meu filho das mãos da minha tão maravilhosa médica e amamentei, como sempre sonhei, tomei um banho, caminhei, comi, pois estava com uma fome de 10 leões e ali me tornei mãe. Com o auxílio da minha mãe que, como meu pai disse, em alguma coisa ajudou, pois nada acontece por acaso.







Resumindo: eu pari, mais do que isso, pari um bebê pélvico, obesa, com um trauma que quase me descartou e com pré eclampsia. Resumindo mais? Eu pari! Simples assim!

Obstetra: Bernadette Bousada



Obstetra assistente: Valéria Pereira
Anestesista: Rachel Béjar
Pediatra: Jofre Cabral
Doula: Luciana Fernandes
Fotógrafa: Mari Hart
Equipe Boas Vindas: Daniela Arruda e Mari Bley



Parteiras: Marilanda Lima, Rosana dos Santos e Tatiana Assunção

Marido: Felipe Lourenço



Agradeço imensamente a todos ... minhas parteiras pelo excelente atendimento, a Berna por bancar junto comigo o meu parto, a Valéria por me fazer sentir acolhida, a Raquel por não ter precisado fazer nada a não ser me receitar dipirona rs, ao Dr. Jofre por ter ajudado nosso filho, a Lu por ter sustentado minhas pernas e ter cuidado de mim, a Mari pelos olhares de incentivo e fotos maravilhosas, a equipe do boas vindas pela tranquilidade e, principalmente, ao meu marido perfeito, por ter sido meu companheiro desde o início, por ter cuidado de mim, por ter comprado a minha briga (nossa), por tudo e mais um pouco e, antes que eu esqueça, por ter compreendido meus "cala a boca" durante as contrações. Rs

Dra. Angélica Ayres (obstetra responsável pela minha confiança em sair da maternidade que extrairia meu bebê) ... A você dedico esse relato!

Dra. Mariele Rios, amiga pediatra, que mesmo longe se preocupou comigo e mobilizou diversas pessoas para me ajudar, caso fosse necessário.

Pra fechar, obrigada a todos pelo respeito, por somente terem observado meu trabalho de parto e terem presenciado minha transformação de menina, em felina até chegar a mulher que sou hoje.


5 comentários:

  1. Lindo Relato Maíra! Parabens pela Garra e força de vontade. Sinto muito pela perda de sua mãe, mas Gael vai conhecê-la através de você. Sejam muito felizes nesta nova jornada.

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  2. Lindo, Maíra! Eu não tinha dúvida de que isso aconteceria. Vc tem muita garra, força e conhecimento. Você trouxe seu filho ao mundo da melhor maneira possível! Parabéns!

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  3. Poder! Gael se orgulhará dessas escolhas! Felicidades!

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  4. Parabéns, May.
    Relato forte e corajoso! Muitas alegrias daqui para a frente.
    Beijos. :*

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  5. Chorei!!!
    Muito lindo May.
    Parabéns pela mulher forte e determinada que você é,parabéns tbm pelo maridão pela força e por entender o seu "cala boca" rsrsrs.
    Gael é Liiindo e tenho certeza que será uma criança muito especial tendo exemplo como vcs!!!
    Bjo giganteeee
    :)

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